Infoenclausura 2.0

Por Dmytri Kleiner & Brian Wyrick - Mute Magazine

traduzido do original Infoenclosure 2.0 por Ariane Stolfi
original disponível em
http://www.metamute.org/en/InfoEnclosure-2.0

O fuzuê que cerca a da habilidade da web 2.0 de democratizar a produção de conteúdo obscurece a centralização da sua propriedade e dos meios de compartilhamento. Dimitri Kleiner e Brian Wyrick expuseram a Web 2.0 como um paraíso do capital de risco aonde os investidores embolsam o valor produzido por usuários não pagos, cavalgam nas inovações técnicas do movimento do software livre e matam o potencial descentralizador da produção peer-to-peer [mano-a-mano]. 1.

1. O peer-to-peer poderia ser definido como mano-a-mano, na formação de uma rede entre computadores onde todos têm responsabilidades iguais, diferente da conexão servidor-cliente. Redes populares de troca de arquivos, como o napster e o Kazaa eram baseadas nesse sistema de organização, além da própria usenet citada no texto.

A wikipedia diz que "Web 2.0, uma frase cunhada pela media O’Reilly em 2004, refere-se a uma suposta segunda geração de serviços baseados na internet — como sites de redes sociais, wiki's, ferramentas de comunicação e folksonomias2 — que enfatizam a colaboração online e o compartilhamento entre usuários"

2. Folksonomias são formas de organizar conteúdo a partir de interações e marcações dos usuários. Sites como Del.icio.us e Youtube utilizam folksonomias através das tags, palavras-chaves que são compartilhadas entre todos os usuários do sistema.

É digno de nota o uso da palavra 'suposta'. Como o provável maior trabalho colaborativo da história, e um dos queridinhos da comunidade da internet no momento, a Wikipédia deveria saber. Diferentemente da maioria dos membros da geração da web 2.0, a Wikipédia é controlada por uma fundação sem fins lucrativos, que só recebe rendimentos via doação e libera seu conteúdo sob uma documentação de licença copyleft GNU Free. E diz muito que a Wikipédia vai adiante em dizer que [Web 2.0] 'se tornou uma palavra-chave popular (apesar de mal definida e freqüentemente criticada) entre certas comunidades técnicas e de marketing.'

A comunidade do software livre tendia a suspeitar, se não desdenhar completamente, do apelido da web 2.0. Tim Berners-Lee despreza o termo dizendo que 'Web 2.0 é claramente um jargão, ninguém nunca soube realmente o que ele significa'. E ele vai além em notar que 'ele significa usar os padrões que foram produzidos por todas essas pessoas trabalhando na Web 1.0'.

Na realidade, não há nenhuma Web 1.0 nem uma Web 2.0, o que existe existe é um desenvolvimento progressivo de aplicativos online que não pode ser claramente dividido.

Na tentativa de definir o que é a Web2.0, é seguro dizer que a maioria dos desenvolvimentos importantes foram indicados por permitir às comunidades criar, modificar e compartilhar conteúdo de uma maneira que só foi disponível previamente para organizações centralizadas que compravam pacotes de software caros, pagavam gente para lidar com os aspectos técnicos do site e para criar conteúdo, que geralmente era publicado apenas nos seus próprios sites.

Uma companhia Web 2.0 muda fundamentalmente o modo de produção do conteúdo da internet. Aplicativos e serviços baseados na internet se tornaram mais fáceis e mais baratos de implementar, e ao permitir que os usuários finais tenham acesso à esses aplicativos, uma companhia pode efetivamente transferir a criação e a organização do seu conteúdo para os próprios usuários finais. Ao invés do modelo tradicional que é de um provedor de conteúdo publicando seus próprios conteúdos e o usuário final consumindo-o, o novo modelo permite ao site da companhia atuar como um portal centralizado entre os usuários, que são ao mesmo tempo criadores e consumidores.

Para o usuário, o acesso a esses aplicativos lhes dá poder de criar e publicar conteúdo que previamente os obrigaria a comprar softwares desktop e possuir um conjunto de habilidades técnicas muito maior. Por exemplo, dois dos principais meios de produção de conteúdo textual na web 2.0 são os blogs e wikis que permitem ao usuário criar e publicar conteúdo diretamente de seu navegador sem nenhuma necessidade real de conhecimento de linguagens de marcação, ou de protocolos de transferência de arquivo ou de propagação, e tudo isso sem ter que comprar nenhum software.

O uso de aplicativos da web para substituir softwares desktop é ainda mais significativo para o usuário quando chega ao conteúdo que não é meramente textual. Não somente as páginas podem ser criadas e editadas no browser sem que se comprem softwares de edição de HTML, mas fotografias podem ser carregadas e manipuladas online através do browser sem a necessidade de se comprar caras ferramentas de manipulação de imagens. Um vídeo feito com uma câmera amadora pode ser enviado a um site, carregado, codificado, inserido numa página HTML, publicado, marcado e propagado pela rede, tudo através do navegador do usuário.

No artigo de Paul Graham sobre a Web 2.0 ele quebra a diferença entre os diferentes papéis de usuário/comunidade em papéis mais específicos, sendo o Profissional, o Amador e o Usuário (mais especificamente o usuário final). Os papéis do profissional e do usuário eram, de acordo com Graham, muito bem compreendidos na Web 1.0, mas o amador não tinha um lugar muito bem definido. Como Graham descreve em 'O que as empresas podem aprender com o código aberto'3, o amador apenas tem amor ao trabalho, sem qualquer preocupação em receber uma compensação ou propriedade sobre aquele trabalho; no desenvolvimento, o amador contribui para o software código aberto enquanto o profissional é pago pelo seu trabalho proprietário.

3. What Business Can Learn From Open Source. Artigo de Paul graham publicado em http://www.paulgraham.com/opensource.html

A caracterização do Amador de Graham lembra uma do 'If I Ran The Circus' do Dr. Suess, aonde o jovem Morris McGurk fala a respeito do elenco do seu circo imaginário McGurkus:

Meus empregados adoram trabalhar. Eles dizem, Trabalhem-nos! Trabalhem-nos! por favor!
Nós vamos trabalhar e vamos trabalhar tanto e tantas surpresas
Que você nunca veria a metade nem se tivesse quarenta olhos.

E enquanto 'Web 2.0' pode não significar nada para Tim Berners-Lee, que vê as recentes inovações como nada mais do que o contínuo desenvolvimentoda rede, para os capitalista de risco, que como Morris McGurk sonham acordados com incansáveis trabalhadores produzindo conteúdo sem fim sem cobrar um cheque por isso, ela soa estupenda. E de fato, do YouTube ao Flickr até a Wikipedia, você de fato nunca veria a metade nem se você tivesse quarenta olhos.

Tim Berners-Lee está correto. Não há nada de um ponto de vista técnico na web 2.0 que não tenha suas raízes na web 1.0, ou não seja um desenvolvimento natural dela. A tecnologia associada com o banner da web 2.0 já era possível e em alguns casos estava prontamente disponível antes, mas o fuzuê em torno desse uso certamente ajudou no crescimento de sites da web 2.0.

A internet (que na verdade é mais do que a web) sempre foi sobre o compartilhamento entre usuários. De fato, a Usenet, um sistema de mensagem distribuído, esteve operando desde 1979! Muito antes mesmo da Web 1.0, a Usenet já estava hospedando discussões, jornalismo "amador", e permitindo o compartilhamento de fotos e de arquivos. Como a internet, ele é um sistema distribuído, não pertencente nem controlado por ninguém. Esta é a sua qualidade, uma falta de propriedade e controle centralizados, que diferencia serviços como a Usenet da Web 2.0.

Se Web 2.0 significa alguma coisa acima de tudo, seu significado cai na racionalidade do capital de risco. Web 2.0 representa o retorno do investimento no pontapé inicial da internet. Depois da bolha do pontocom (o verdadeiro fim da Web 1.0) aqueles belos vultuosos investimventos de dólares necessitavam de uma nova razão para ser feitos novamente em empresas online. 'Construa e eles virão’, a atitude dominante da bolha pontocom dos anos 90, assim como a ilusória 'nova economia', não era mais tão atrativa depois de tantas iniciativas fracassadas. Construir infra-estrutura e financiar capitalização real não era mais o que os investidores estavam procurando. Apropriar-se do valor criado por outros, no entanto, se provou ser uma proposição muito mais atraente.

Web 2.0 é a explosão de investimento na internet 2.0. A Web 2.0 é um modelo de negócios, isto é, a apropriação privada de valores criados pela comunidade. Ninguém nega que a tecnologia de sites como YouTube, por exemplo, é trivial. Isto é mais do que evidenciado pelo grande número de serviços idênticos, como o DailyMotion. O verdadeiro valor do YouTube não foi criado pelos programadores do site, mas sim é criado pelas pessoas que postam vídeos no site deles. Todavia, quando o YouTube foi comprado por mais de um bilhão de dólares em ações da Google, quanto dessas ações ficaram com aqueles que fizeram todos esses vídeos? Zero. Zilch, None. Um ótimo negócio se você é proprietário de uma companhia da Web 2.0.

O valor produzido por usuários de serviços da Web 2.0 como o YouTube é expropriado por investidores capitalistas. Em alguns casos, o conteúdo real contribuído poe eles acaba propriedade dos proprietários do site. A apropriação privada de valores criados pela comunidade é uma traição da promessa do compartilhamento da tecnologia e da livre cooperação.

Diferente da Web 1.0, aonde os investidores freqüentemente financiavam caras aquisições de capital, desenvolvimento de software e criação de conteúdo, um investidor da Web 2.0 só precisa financiar a geração de hype, marketing e fuzuê. A infra-estrutura é amplamente disponível por pouco, o conteúdo é gratuito e o custo do software, pelo menos do tanto dele que não é gratuito também, é desprezível. Basicamente, providenciando alguma banda e espaço em disco, você será capaz de se tornar um site de internet bem sucedido, se você conseguir se auto-promover de maneira efetiva.

O maior sucesso de uma companhia da Web 2.0 vem do seu relacionamento com a comunidade, mais especificamente, da habilidade da companhia de 'encoleirar inteligência coletiva', como O’Reilly colocou. Companhias da Web 2.0 são monolíticas e unilaterais demais em suas abordagens do conteúdo. Estórias de sucesso da transição da Web 1.0 para Web 2.0 eram baseadas na habilidade de uma companhia permanecer monolítica em matéria de conteúdo, ou melhor ainda, na sua absoluta propriedade daquele conteúdo, ao mesmo tempo em que abre o método da criação desse conteúdo para a comunidade. O Yahoo! criou um portal para o conteúdo da comunidade ao mesmo tempo que ele permaneceu sendo a localização central para encontrar esse conteúdo. O Ebay permite aos usuários venderem seus bens, ao mesmo tempo em que é o bazar desses bens. A Amazon, vendendo os mesmos produtos que outros sites, foi bem-sucedida em permitir a participação da comunidade na vazão dos seus produtos.

Porque os capitalistas que investem no começo da Web 2.0 freqüentemente não financiam a capitalização inicial, seu comportamento é notadamente um tanto parasitário. Eles freqüentemente chegam tarde no jogo, quando a geração de valor já está em um bom momento, atacam para tomar a propriedade e usar seu poder financeiro para promover o serviço, freqüentemente no contexto de uma rede hegemônica de parceiros grandes e bem-financiados. Isto significa que as companhias que não são adquiridas pelo capital de risco acabam privadas de dinheiro e são espremidas para fora do clube.

Em todos esses casos, o valor do site da internet é criado não pelos empregados da companhia que o provém ele, mas pelos usuários que o utilizam. Com toda a ênfase no conteúdo criado pela comunidade e no compartilhamento, é fácil negligenciar o outro lado da experiência da Web 2.0: a propriedade de todo esse conteúdo e habilidade de monetarizar esse valor. Para o usuário, isso não aparece freqüentemente, é somente parte das letras miúdas no seu acordo de Termos de Serviço do MySpace, ou o Flickr.com na url das suas fotos. Isto não costuma ser uma questão para a comunidade, é um pequeno preço a ser pago pelo uso desses maravilhosos aplicativos e pelo impressionante efeito nos resultados dos sistemas de busca quando alguém pesquisa seu próprio nome. Já que a maioria dos usuários não têm acesso à meios alternativos de produzir e publicar seus próprios conteúdos, eles são atraídos a sites como MySpace e Flickr.

Enquanto isso, o mundo coorporativo estava tendo uma idéia completamente diferente da Super-rodovia da Informação, produzindo 'serviços online' monolíticos e centralizados, como CompuServe, Prodigy e AOL. O que os separava da internet é que esses eram sistemas centralizados aonde os usuários se conectavam diretamente a eles, enquanto a internet é uma rede peer-to-peer [de mano a mano], cada dispositivo com um endereço público de internet [endereço IP] pode se comunicar diretamente com outro. Isto é o que faz a tecnologia peer-to-peer possível, isto também é o que torna possíveis os servidores de internet independentes.

Deve ser acrescentado que muitos projetos código-aberto podem ser citados como as inovações chave no desenvolvimento da Web 2.0: Softwares gratuitos como Linux, Apache, PHP, MySQL, Python, etc. são a espinha dorsal da Web 2.0, e da própria web. Mas existe uma falha fundamental em todos esses projetos nos termos do que O’Reilly se refere como as competências centrais das companhias da Web 2.0, em outras palavras, o controle sobre exclusivas fontes de dados, difíceis de serem recriadas que se tornam cada vez mais ricas na medida em que mais pessoas as utilizam – o encoleiramento da inteligência coletiva que elas atraem. Permitindo que a comunidade contribua abertamente e utilizando essa contribuição dentro do contexto de um sistema privado aonde o proprietário possui o conteúdo é uma característica de uma empresa da Web 2.0 bem-sucedida. Permitir que a comunidade tenha propriedade daquilo que ela criou, por outro lado, não é. Logo, para ter sucesso e gerar lucros para os investidores, uma companhia da Web 2.0 precisa criar mecanismos de compartilhamento e colaboração que sejam controlados centralizadamente. A falta de controle central que a Usenet e outras tecnologias controladas por camaradas é a falha central. Ela só beneficia seus usuários, elas não beneficiam os investidores distantes, uma vez que elas não são ‘possuídas’.

Dessa forma, porque a Web 2.0 é financiada pelo Capitalismo 2006, a Usenet é quase esquecida. Enquanto todo mundo usa Digg e Flickr, e o YoutTube vale mais de um bilhão de dólares, a PeerCast, uma rede inovadora de streaming de vídeo peer-to-peer ao vivo que existe a muito mais anos do que o YouTube, é praticamente desconhecido.

De um ponto de partida tecnológico, tecnologias peer-to-peer (p2p) e distribuídas são muito mais eficientes do que sistemas da Web 2.0. Fazendo um melhor uso dos recursos da rede, ao utilizar os comutadores e a conexão de rede dos usuários, a tecnologia p2p evita a criação de gargalos criados por sistemas centralizados e permitem que o conteúdo seja publicado com menos infra-estrutura, freqüentemente não mais do que um computador e uma conexão de internet domética. Sistemas p2p não requerem os centros de dados massivos de sites como YouTube. A falta de infra-estrutura central também aparece com uma falta de controle central, o que significa que a censura, freqüentemente um problema de 'comunidades' de propriedade privada que freqüentemente se curvam a pressões de grupos públicos e privados e forçam limitações nos tipos de conteúdo permitido. Além disso, a falta de grandes centrais de bancos de dados de referências cruzadas de informações dos usuários tem uma grande vantagem em termos de privacidade.

Dessa perspectiva, pode ser dito que a web 2.0 é o ataque preemptivo do capitalismo contra os sistemas p2p. A despeito de todas as desvantagens em comparação a estes, a Web 2.0 é mais atrativa aos investidores, e assim, tem mais dinheiro para financiar e promover soluções centralizadas. O resultado final disso é que o investimento capitalista fluiu para soluções centralizadas, tornando-as fáceis, baratas ou gratuitas para serm adotadas por produtores de informação não-técnicos. Assim, a facilidade de acesso comparado à tarefa mais cara e mais desafiadora tecnicamente de possuir seus próprios meios de produção de informação, criou um proletariado da informação 'despossuído' pronto a prover trabalho alienado de criação de conteúdo para os novos info-proprietários da Web 2.0.

Freqüentemente é dito que a internet tomou o mundo coorporativo de surpresa, saindo como era de universidades financiadas por recursos públicos e de pesquisas militares. Ela foi promovida como um meio de provedores independentes, de uma indústria de fundo de quintal de pequenos serviços que estavam aptos a arrancar algum dinheiro por prover acesso à rede construída e financiada pelo estado.

A internet parecia um anátema para a imaginação capitalista. A Web 1.0, a explosão pontocom inicial, foi caracterizada por uma corrida pela propriedade de infra-estrutura, para consolidar os provedores de internet independentes. Enquanto o dinheiro era jogado por aí de uma maneira quase aleatória, na medida em que os investidores lutavam para entender para que esse meio poderia realmente ser utilizado a missão geral foi relativamente bem-sucedida. Se você tivesse uma conta de internet em 1996 ela provavelmente era oferecida por uma companhia pequena local. Dez anos depois, enquanto algumas das pequenas empresas sobreviveram, a maioria das pessoas tem seu acesso à internet provido por uma corporação gigante de telecomunicações. A missão da bomba de investimentos na Web 1.0 era de destruir os serviços de provedores independentes e colocar de volta as grandes e ricas corporações de volta no comando.

A missão da web 2.0 é de destruir o aspecto p2p da internet. Fazer você, o seu computador e a sua conexão de internet dependente da conecção a um sistema centralizado que controla sua capacidade de se comunicar. A Web 2.0 é a ruína de sistemas gratuitos peer-to-peer e o retorno de sistemas monolíticos de 'serviços online'. Um detalhe notável aqui é que a maioria das conexões domésticas ou corporativas dos anos 90, os modems e conexões ISDN, eram sincrônicas - ou seja, iguais em suas capacidades de enviar e receber dados. Pelo próprio design, sua conexão te capacitava a ser igualmente um produtor e um consumidor de informação. Por outro lado, as conexões modernas DSL e à cabo são assíncronas, permitindo que você baixe informação rapidamente, mas suba devagar. Sem mencionar o fato de que muitos termos de seção de uso de serviços te proíbem de rodar servidores nos seus circuitos de consumidores, e podem cortar os serviços se você o fizer.

O Capitalismo, enraizado na idéia de obter rendimentos através da propriedade de ações, sem trabalhar, requer um controle centralizado, sem o qual os produtores individuais não têm nenhuma razão para compartilhar seus rendimentos com os acionistas externos. O Capitalismo, então, é incompatível com as redes gratuitas p2p, e assim, uma vez que o financiamento do desenvolvimento da internet vêm de acionistas privados que estão à procura de se apropriar de recursos da internet, a rede só se tornará cada vez mais restrita e centralizada.

Deve-se notar que mesmo no caso da produção comunal camarada, enquanto os comuns e a sociedade no grupo de camaradas é limitada, e forças produtivas como comida para os produtores e os computadores que eles usam são adquiridos de fora do grupo comunal de camaradas, então os próprios produtores podem estar sendo cúmplices na apropriação exploratória do valor desse trabalho. Então, para endereçar de fato a injusta apropriação de valor de trabalho alienado, o acesso à cmuna e a admissão no grupo de camaradas deve ser estendida o máximo possível através de um sistema de bens e serviços. Somente quando todos os meios de produção estiverem disponíveis para os produtores que se baseam em princípios comunais é que todos os produtores poderão reter o valor do produto do seu próprio trabalho.

E enquanto a comunidade da informação pode ter a possibilidade de representar um papel em mover a sociedade rumo a modos de produção mais inclusivos, qualquer esperança real de uma nova geração genuína de serviços baseados na internet, que enriqueça a comunidade, não está arraigada na criação de recursos centralizados de propriedade privada, mas sim na criação sistemas cooperativos, baseados em p2p e baseadas em princípios de comunidade, pertencentes a todo mundo e a ninguém. Embora pequenos e obscuros para os padrões de hoje, com seu foco em aplicativos p2p como a Usenet e o e-mail, a internet inicial era muito mais um recurso comum, compartilhado. Conjuntamente à comercialização da internet e da emergência do financiamento capitalista, vem a clausura desses princípios de informação, aonde riqueza pública é traduzida em lucro privado. Assim, a Web 2.0 não deve ser pensada como a segunda geração de desenvolvimento, nem técnico nem social da internet, mas sim como a segunda onda de enclausuramento capitalista dos princípios da informação.

Praticamente todos os recursos mais utilizados da internet poderiam ser substituídos por alternativas p2p. O google poderia ser substituído por um sistema de busca p2p, aonde cada browser e cada servidor de internet fossem nós ativos no processo de busca; Flickr e YouTube também poderiam ser substituídos por aplicativos como PeerCast e eDonkey, que permitem aos usuários utilizarem seus próprios computadores e conexões de rede a colaborativamente compartilharem suas imagens e vídeos. No entanto, o desenvolvimento de recursos da internet requer a aplicação de riqueza, e enquanto a fonte dessa riqueza for o capital financeiro, o grande potencial peer-to-peer da internet vai permanecer não-realizado


Dmytri Kleiner [dk AT haagenti.com] é um hacker anarquista e co-fundador da Telekommunisten, um companhia cooperativa de ecnologia especializada em sistemas de telefonia. Dmytri é um canadense nascido na URSS e atualmente mora em Berlin co sua esposa Franziska e sua filha Henriette

Brian Wyrick [brian AT pseudoscope.com] é uma artista, cineasta e desenvolvedor da web, trabalhando em Berlin e Cicago. Ele também é co-fundador do grupo 312 Films, um grupo de filmes sediado em Chicago, e posta novidades sobre seus projetos em http://www.pseudoscope.com

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